16 de Abril de 2025

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GERAL Quinta-feira, 10 de Abril de 2025, 11:19 - A | A

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ARTIGO

A violência doméstica: caos invisível que marca vidas e gera traumas profundos

Lucas Leite

A violência doméstica, em suas diversas formas, continua sendo uma das maiores ameaças ao bem-estar psicológico, emocional e físico das vítimas no Brasil, e Mato Grosso não está imune a essa realidade alarmante. O impacto da violência dentro de casa é devastador, não apenas pela dor imediata causada, mas também pelos traumas profundos que perduram por toda a vida e afetam a construção do caráter das vítimas. Cada agressão, cada palavra cruel, cada gesto de violência é um marco doloroso na formação da identidade das vítimas, especialmente quando essas agressões partem de pessoas que deveriam ser fontes de proteção e afeto, como pais, irmãos ou parceiros.

O ciclo de violência doméstica é um pesadelo que começa em casa, mas cujos reflexos se estendem para a sociedade de maneira ampla. As consequências emocionais e psicológicas dessa violência podem ser devastadoras, criando feridas invisíveis que muitas vezes são mais difíceis de tratar do que as lesões físicas. A constante sensação de medo, a perda da autoestima, a vergonha e o sentimento de impotência são apenas alguns dos efeitos que as vítimas experimentam ao longo de suas vidas. Crianças que crescem em ambientes violentos têm ainda mais dificuldades em processar e lidar com esses sentimentos, o que pode afetar seu desenvolvimento emocional e até mesmo suas relações interpessoais na vida adulta.

Nos últimos anos, os números relacionados à violência doméstica no Brasil e em Mato Grosso têm apresentado um crescimento alarmante. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, em 2023, foram registrados mais de 56 mil casos de feminicídio no Brasil, além de milhares de casos de violência física, psicológica e sexual contra mulheres dentro de suas próprias casas. Esse cenário de violência é ainda mais grave quando se considera o subnotificamento e a dificuldade das vítimas em denunciar seus agressores, especialmente quando se trata de parentes próximos.

Em Mato Grosso, a situação não é diferente. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT), em 2023, o estado registrou 2.897 casos de violência doméstica e 10 feminicídios. Além disso, a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher do estado tem relatado um aumento nas denúncias, mas também um número expressivo de casos que não chegam ao conhecimento das autoridades devido ao medo, à vergonha e à dependência emocional ou financeira das vítimas.

Esses números, embora preocupantes, não representam a totalidade da realidade, pois, muitas vítimas, principalmente dentro do círculo familiar mais íntimo, como entre pais e filhos ou irmãos, ainda se sentem impossibilitadas de denunciar o agressor. O medo de represálias, o desejo de manter a aparência de uma "família perfeita" e até mesmo o temor de romper laços familiares profundos muitas vezes impedem a denúncia, perpetuando o ciclo de abuso.

É crucial entender que a violência doméstica não deve ser tolerada em nenhuma circunstância, independentemente de quem seja o agressor. O fato de o agressor ser um pai, irmão ou cônjuge não diminui a gravidade do ato nem justifica o sofrimento da vítima. Pelo contrário, a violência que ocorre dentro de casa é ainda mais devastadora, pois, quebra o alicerce de confiança que deveria existir dentro de um ambiente familiar.

A denúncia é um ato de coragem e, mais importante, é uma medida fundamental para romper com o ciclo de violência. As vítimas precisam saber que há ajuda disponível, que o sofrimento pode ser interrompido e que a violência nunca é justificável. Em Mato Grosso, o Disque Denúncia é um canal importante para essas denúncias, funcionando de forma anônima e segura. O número é (65) 3211-4444. Denunciar é proteger a si mesma e, muitas vezes, proteger outras pessoas que possam estar sofrendo em silêncio dentro de casa.

Além disso, as vítimas de violência doméstica devem ser lembradas de que a sociedade e as instituições estão cada vez mais atentas à necessidade de combater esse tipo de crime. A rede de apoio, que inclui serviços de saúde, assistência social, justiça e políticas públicas voltadas para o acolhimento, está mais robusta do que nunca. A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, trouxe importantes avanços no combate à violência contra a mulher, mas a conscientização sobre seus direitos e a coragem para buscar ajuda ainda são desafios a serem enfrentados.

A violência doméstica, especialmente o feminicídio, é um flagelo que afeta milhões de mulheres no Brasil e no mundo. Apesar de avanços em legislações e campanhas de conscientização, muitos casos de abusos continuam a ser cometidos diariamente, impactando vidas e gerando consequências profundas para as vítimas e para a sociedade. No Brasil, em Mato Grosso e na capital Cuiabá, os números são alarmantes, e os relatos de violência doméstica chocam pela crueldade e pela forma como esse crime atinge principalmente mulheres, crianças e idosos.

No cenário nacional, o caso de Maria da Penha é um dos mais emblemáticos. Ela foi vítima de violência doméstica por parte de seu marido por anos, e após uma tentativa de homicídio que a deixou paraplégica, Maria da Penha se tornou um símbolo da luta contra a violência doméstica no Brasil. Sua história foi fundamental para a criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, que trouxe avanços significativos na proteção das mulheres contra a violência, estabelecendo medidas mais rigorosas de combate e punição dos agressores.

Outro caso que repercutiu em todo o Brasil foi o feminicídio de Eloá Pimentel, ocorrido em 2008. Eloá, uma adolescente de 15 anos, foi mantida em cativeiro pelo ex-namorado por vários dias antes de ser assassinada em um caso que ganhou grande visibilidade na mídia. Este caso foi um marco no país, mostrando as consequências extremas do controle abusivo, do ciúme excessivo e da violência psicológica, que frequentemente precedem o feminicídio.

Mato Grosso também possui diversos casos que chocaram a sociedade e reforçam a urgência em enfrentar a violência doméstica de forma mais eficaz. Um caso de grande repercussão em Mato Grosso foi o do feminicídio de Cássia Maysa da Silva, ocorrido em 2019. Ela foi morta pelo próprio companheiro em um episódio de violência extrema.

O caso mobilizou a sociedade mato-grossense e trouxe à tona a discussão sobre a necessidade de fortalecer políticas públicas de proteção à mulher e de dar maior visibilidade aos mecanismos legais de apoio, como a Lei Maria da Penha e a medida protetiva.

Além disso, casos de violência contra mulheres e crianças têm sido cada vez mais comuns em áreas de vulnerabilidade social, o que torna a implementação de programas de acolhimento e apoio mais urgente, para evitar que o ciclo de violência se perpetue.

Na capital de Mato Grosso, Cuiabá, a situação não é diferente. Em 2022, a cidade registrou uma média de 300 denúncias de violência doméstica por mês. A cidade também viu um aumento no número de feminicídios, e os relatos de violência psicológica, física e sexual dentro de casa têm sido frequentes. Em muitos desses casos, as vítimas optam por não denunciar devido à proximidade dos agressores.

Um caso específico que abalou Cuiabá foi o feminicídio de Diene Aparecida da Silva, ocorrido em 2018. Ela foi assassinada pelo companheiro, que havia sido denunciado anteriormente, mas não havia medidas de proteções suficientes para impedir o crime. Esse caso gerou indignação na cidade e levantou o debate sobre a efetividade das leis de proteção à mulher, além de alertar para a necessidade de mais ações para sensibilizar a população sobre a importância da denúncia.

O caso de Mayara de Souza, em 2020, também foi emblemático. A jovem foi espancada até a morte pelo namorado, em mais um episódio de violência doméstica que mobilizou não apenas a cidade de Cuiabá, mas todo o estado. A crueldade do crime trouxe à tona a reflexão sobre o quanto a violência contra a mulher ainda é tratada como algo normal em muitas relações familiares e afetivas.

A violência doméstica é um problema grave, que afeta diretamente a vida de milhares de mulheres. A cada novo caso de feminicídio ou abuso, a sociedade é lembrada da necessidade urgente de enfrentar a violência de forma integral, com políticas públicas eficazes, apoio psicológico, e conscientização social.

É crucial que as vítimas saibam que não estão sozinhas, que existem canais de denúncia e proteção, e que a denúncia, mesmo quando o agressor for um parente próximo, pode salvar vidas. Não há justificativa para a violência dentro de casa, e é preciso que a sociedade se una para erradicar esse mal, garantindo que todas as mulheres possam viver sem medo, com dignidade e segurança.

Lucas Leite, jornalista, assessor de imprensa, social mídia e editor chefe do jornal COPopular


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